Hoje, 18 de Julho, faria anos Nelson Mandela. E, por ser um daquelas homens que a história regista e guarda nos seus anais, pelos motivos mais positivos, não quero deixar de lhe prestar um tributo e, ao mesmo tempo, fazer uma reflexão de vida partilhada . Digamos que estou numa fase em que, face a muitos desafios , alguns «ossos duros de roer», a resposta natural seria revoltar-me, sentir ódio, querer agarrar-me ao consolo ilusório da vingança que é uma reposta primordial do ser humano a situações de ameaça ou perigo. Só que eu sei que esse caminho não leva a lado nenhum… e tenho de ver as alternativas.
Filosofemos: quando somos atacados na nossa dignidade, quando pessoas sem escrúpulos ou sem consciência fazem mal a quem amamos, ( como por exemplo os responsáveis pelo atentado ao avião que matou ontem, 17 de julho, duas centenas de inocentes…) , quando temos de enfrentar um mal sem rosto, ativo, impune, qual é a solução? Quando pessoas «pequenas» em alma e ética se comportam como Deus, fazem e desfazem, destroem vidas, arrasam com pessoas à sua passagem por mesquinhez, por um sentido distorcido de poder, por ganância ou pura estupidez qual é a vontade que sentimos? Naturalmente retaliar. Mas a vida já me ensinou duas lições preciosas : uma, que devemos ser assertivos, ou seja saber mostrar a quem nos ataca que temos um limite intransponível e a razão nos dá força de Hércules para lutar pelos nosso direitos de cara levantada e sem medo, a outra que vingança pura e dura , é uma forma cega de ataque que não traz compensação nenhuma no final.
Mandela para o mundo
E que tem tudo isto a ver com Mandela? Deixo-vos com algumas frases da sua autoria e depois direi porque tem tudo a ver com Mandela:
« 1 Se as pessoas aprendem a odiar, também podem ser ensinadas a amar, porque o amor é mais natural no coração humano do que o sentimento oposto.
2 A educação é a arma mais poderosa que temos para mudar o mundo.
3 O que realmente conta na vida não é apenas o facto de termos vivido. É a diferença que fizemos nas vidas dos outros que determina a importância da nossa própria vida.
4 Ser livre não é apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma a respeitar e ampliar a liberdade dos outros.
5 A nossa maior glória não está em nunca cair, mas em levantarmo-nos sempre que caímos.»
Nelson Mandela ( 18 de julho dia do seu nascimento )
Analisemos estas lições:
1 Se odiar é algo que não é natural no coração humano , não pode ser útil. Dar uma «sapatada» , melhor ainda, uma «bofetada de luva branca» a quem nos tenta derrubar e rasteirar é licito, defendermo-nos é lícito, fazer mal por mal, por excesso de emoções negativas, por descontrole emocional, é ir contra a natureza, é sinal de imaturidade anímica, é indicio de retrocesso humano, de indignidade, de pequenez. Conclusão: não vale a pena…. Afinal amar parece ser natural ao coração humano e traz tanta , mas tanta mais felicidade!
2 Educação é sinónimo de uma consciência ética, da capacidade de crescer como HOMEM, de saber intrinsecamente que o respeito pelo outro é sinónimo de respeito por nós mesmos. A educação no seu sentido mais global, envolve conhecimento, cultura, uma alma esticada e treinada que abre janelas de tolerância, de grandeza, de mudança. Os homens incultos, mal educados, sem preparação, os verdadeiramente ignorantes, são os maiores terroristas da vida. Qualquer forma de poder na mão de um homem ignorante é sempre um abuso de poder, é sempre um atentado contra a dignidade dos outros. Por isso há apenas 3 tipos de homens: os com letra maiúscula, os com letra pequena …e , como diz o meu marido, os sem «h», segundo um novo acordo ortográfico inventado. Os homens mais educados em termos globais, são os de letra maiúscula. Não precisam de se afirmar grandes, porque a grandeza de se sente e vê. Os com letra minúscula são seres em processo evolutivo, que aprendem que erram e eventualmente saberão ser humildes o suficiente para perceber a diferença. Os homens sem educação, sem vontade de aprender, ou pior que acham que sabem tudo, tem direito a tudo, e se colocam na ponta dos pés para serem vistos são os homens sem «h» , seja ele maiúsculo ou minúsculo.
3 Viver todos vivemos. Como morremos aliás, todos, do maior ao mais pequeno, mesmo que a maioria se esqueça disso. Não há mérito especial em viver. Viver é até fácil no sentido literal. Viver fazendo a diferença, ou seja fazendo a diferença positiva na vida dos outros, isso é VIVER. Mandela foi assim… muitos homens na história foram assim e serão recordados pelo que ajudaram outras vidas a melhorarem, pelas janelas de esperança que criaram, pela exemplo que deram, pela alegria ou esperança que semearam. Este é um segredo que poucos homens no poder sabem reconhecer, porque a verdadeira grandeza de um homem mede-se pela forma como sabe tratar um homem mais pequeno… nunca pisando, mas elevando o outro. Se os políticos, os empresários , os líderes, os pais, os professores, todos os que «mandam» soubessem esta simples verdade, creio que o mundo teria um rosto bem mais feliz…
4 A liberdade é algo sagrado. Porque ser livre implica dar liberdade, promover a liberdade, exaltar a liberdade do outro também. Liberdade de ser, de falar, de escolher. Quando um país ou uma organização escraviza os seus membros, percebemos que a liberdade de todos está em causa. É um equilíbrio sagrado, porque todos somos elos da mesma cadeia, vivemos em teia, o que fazemos condiciona a vida e felicidade dos outros, por isso a liberdade é uma tremenda e pesada responsabilidade. Se eu sou livre de agir, terei de assumir o peso das minhas escolhas, porque não nos é permitido alegar ignorância quando agimos em liberdade. Se faço mal, se destruo a vida dos outros, se sou um empresário sem escrúpulos, um político omisso, se sou corrompido e uso o suborno para chegar onde quero, se piso em quem está ao lado para o ultrapassar, se sou uma pessoa mesquinha, mal formada, incapaz de sentir empatia ou compaixão, escreverei a história da minha vida com nota negativa. Mais nada. Não interessa que os outros saibam ou não….é essa a minha história de liberdade, ou falta dela. Se não fui capaz de ampliar a liberdade dos outros, não passei de um escravo, um desgraçado, um zé ninguém…
5 Finalmente um vencedor não é um homem que nunca cai. Os vencedores são homens e mulheres com cicatrizes na alma. Que caem, às vezes de grandes alturas. Mas, porque se fortalecem na humilde certeza que nada temos e nada somos, que tudo é recomeço e princípio, sabem partir da cada queda para uma nova rota. Quando somos atraiçoados, quando, como acontece hoje em Portugal e no mundo, os princípios e direitos básicos não são respeitados, as pessoas são despojadas do seu emprego, da sua capacidade de gerir a sua vida, quando perdem casa, emprego, saúde, podem pensar que chegaram ao fim. E muitas vezes não parece haver uma luz ao fundo do túnel, porque as soluções não surgem do dia para a noite. Sobretudo num regime em que a liberdade, os direitos, a humanização se estão a perder e o Estado se mecanizou ao ponto de ver as pessoas como algarismos, é preciso uma teimosia descomunal para não desistir. Mas há soluções. Há voltas. Há um outro dia. Ás vezes é preciso aprender a dispensar o que pensávamos ser indispensável, a reduzir, a repensar, mas há sempre uma saída e os vencedores são capazes de a achar. Como Mandela foi capaz…
Hoje, precisei de pensar em forma de palavras para organizar ideias, e como nunca sabemos o que as nossas palavras e atos podem influenciar a vida dos outros, o que, aliás, não nos diz respeito, resolvi deixar esta reflexão por escrito, em homenagem a Mandela e em homenagem a todos os homens que sofrem que lutam que agem, que não se conformam, e, tenho a certeza, no final das suas vidas, seja qual for o veredito dos outros, serão sempre vencedores, homens com «H» grande . Os outros…. tantos outros, serão apenas homens sem história, sem peso, sem «h»…. e mais nada!