“Cinco segundos depois de ter entrado na Tiffany’s já estou mais calma. O ritmo do coração começa a diminuir. Minha mente começa a girar menos freneticamente. Sinto-me aplacada, só de olhar as vitrines cheias de joias brilhantes.” (A Lista de Casamento de Becky Bloom).
Esse é um pequeno trecho do terceiro livro de uma série sobre uma mulher compulsiva por compras. Em cada livro diversos dilemas são narrados e a protagonista acaba sempre envolvida em dívidas, cartões de créditos estourados e limite especial ultrapassado. A Becky Bloom sofre de um mal que atinge cada vez mais e mais pessoas. Ela não é apenas consumista, ela tem uma doença que a psicopatoligia denomina: ONIOMANIA ou TRANSTORNO DE COMPRAR COMPULSIVO (TCC). É sobre esse aspecto que iremos abordar.
Em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que cerca de 5% da população mundial sofra desse tipo de transtorno. Entre os brasileiros, um entre cada 20, sofre do mal. A oniomania além do endividamento causa problemas como divórcios, desemprego e total desestrutura familiar.
Uma coisa que precisa ficar clara é que a compulsão por compra não é um ato irresponsável, é uma doença, tal como a compulsão por álcool, drogas, comida, sexo. Por ser uma doença, causa intenso sofrimento psíquico. O transtorno se instala devagar, silenciosamente. Começa com compras eventuais, passando a aumentar o número, até chegar ao ponto de comprar coisas das quais nem precisa, nem tem nenhuma utilidade. Compra-se apenas por satisfação pessoal, por prazer.
O compulsivo faz compras para suprir necessidades internas. Assim como o viciado bebe quando se sente mal ou tem algum problema, o comprador usa as compras para aliviar suas pressões diárias, esquecer questões da sua vida. Dentro da oniomania existem sintomas relacionados a outras doenças psíquicas como depressão, ansiedade e traços de rejeição. Diante do que analisamos no artigo anterior sobre a cultura capitalista em que estamos imersos, quanto mais se compra, mais se destaca. Comprar então vira questão de status social.
Mas não seria possível minimizar as causas do transtorno apenas à necessidade de aceitação social. O problema vai além, é profundo e requer análises igualmente aprofundadas. Não é uma doença de ricos, como muitas vezes querem insinuar. O comprador compulsivo pode não ter dinheiro, mas mesmo assim ele compra. Usa cartões, limites especiais e acaba por adquirir dívidas. Portanto é uma doença para todas as classes sociais e atinge ambos os sexos, sendo as mulheres mais vulneráveis.
SINTOMAS DA ONIOMANIA
- Comprar quando está sob pressão, triste ou ansioso;
- Sentir aplacar seus problemas quando compra;
- Mentir para familiares e amigos sobre quanto dinheiro gastou nas compras;
- Sentir grande excitação durante a compra;
- Culpar-se e envergonhar-se quando vê o resultado do que comprou;
- Acumular descontroladamente inúmeras contas não pagas e não conseguir resolver a questão;
- Possuir vários cartões de créditos e usá-los além do limite;
Mas o fator primordial é que a pessoa realmente é incapaz de resistir ao impulso de comprar e tal comportamento acaba por interferir de maneira intensa em diversos aspectos da vida.
Semelhantemente aos toxicômanos que tem sensações de abstinência quando não podem usar seus tóxicos, o comprador compulsivo quando impedido de realizar suas compras, relata a presença de sentimentos depressivos, de ansiedade e angústia, todos eles bastante intensos. O problema é que as pessoas afetadas por este transtorno tendem a minimizar a questão e não assumir que têm uma doença. Isto torna difícil o tratamento.
COMO TRATAR?
Assim como os demais transtornos compulsivos. A oniomania precisa de tratamento psicológico e psiquiátrico, para que sejam avaliadas as causas do comportamento. Outros transtornos podem estar associados. Como depressão, ansiedade e até o transtorno bipolar, especialmente na fase maníaca. Algumas vezes é até preciso a utilização de medicamentos.
Então quando se identifica a possibilidade de oniomania em algum amigo, parente ou em si mesmo, é preciso buscar ajudar. Além de contar com o apoio social, esclarecendo que não se trata de irresponsabilidade, mas de doença e como tal pode e deve ser tratada. A família e os amigos precisam cercar esta pessoa de compreensão, buscando se certificar de que ela não tenha recaídas, fato comum em qualquer tipo de compulsão. Juntando apoio profissional e familiar, o comprador pode vencer seu dilema. Busque ajuda, não espere que a próxima fatura do cartão de crédito te assombre!